quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

es regnet, es regnet


Havia acabado de desenvolver por inteira sua décima nona patinha. Tudo ia bem com a monstrinha, até que ela chegou em um lugar chamado “ponto de não retorno”. Nossa, como aquilo a assustou. Eram tantas coisas novas, tantos riscos. Ela chegou a cair e se quebrou, “Chega” exclamou.
Depois do incidente se trancou em um laboratório. Cercou-se de ratinhos. Para cada um criou um nome e uma história. Lá era tão seguro, tão previsível, tão desinfetado que quase não havia vida.
A monstrinha não percebia o que perdia. Estava viciada em analisar cada passo, cada impulso de seus objetos de estudo. Quando havia necessidade saía do casulo, mas era sempre uma situação breve e frustrante. Desaprendera a se relacionar com seus semelhantes, transformou todos em material de laboratório.
Contudo a natureza da monstrinha não era aquela. Nascera em uma cidade chamada Mirólândia, onde, ao acordar, todos bebiam uma substância chamada oníricogina.
Não sabia se era a falta do remédio, ou o fim de qualquer geração espontânea em seu laboratório, o fato é que adoeceu. As máquinas entraram em curto circuito, os ratos fugiram e cortaram a luz. Pediu socorro. não veio. pediu de novo. não veio. pediu mais uma vez. acabou sua voz e não veio.
Quando a escuridão começou a afetar sua saúde, chegou um vaga-lume – eles eram os salva-vidas em Mirólândia.
“ACORDA” ele gritou. “Há quanto tempo você está aqui, no escuro?” perguntou o inseto.
“Não me lembro mais” respondeu a monstrinha.
“Ouça mocinha
o que deve fazer,
pegue suas galochas e vá para a chuva” sugeriu o salva-vidas.
“Só isso?” indagou a monstrinha.
“Isso, só.” respondeu o vaga-lume.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009


restinpeaceandmaygodprotectmefrommyself

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Cajuti lifestyle

É impressionante como o determinismo geográfico influi na vida das pessoas.
Se você nasceu na Palestina, você deve, desde criança, ter um posicionamento de “vendetta” para com os judeus.
Caso tenha nascido no latifúndio do Tio Sam, vai ser considerado pela nova geração cult / yuppi alternativo, que se julga bem esclarecida, um babaca (até que se prove o contrário).
Há também o poder da localização dentro de um país. Vejamos o Brasil.
Os baianos são considerados lerdos, os paraibanos são paraíbas, as gaúchas são deusas do sexo, as mineiras “se perdem” e os cariocas são os que passam o rodo.
Fazendo uma análise ainda mais detalha, vemos nessa tripinha de cidade, que é o Rio de Janeiro, uma nítida distinção de seus bandos. Deixando de lado os menos abastados, vemos uma grande diferença entra os da Z.S e os da não Z.S = da Z.N (zona sul, zona norte).
Talvez a diferença seja tão grande quanto a montanha que separa essas duas regiões. Vou até começar a escrever na primeira pessoa, inclusive porque isso aqui é um depoimento.
Fui concebida e nascida e criada no mesmo endereço na zona sul. Tirando os anos de pré-escola e os dois anos no supra-sumo dos guetos da z.s (escola britânica), fui formada e educada em um colégio no centro da cidade, cuja maior parte dos alunos são residentes da Tijuca / Grajaú e adjacências. Foram onze anos de Deutsche Schule. Embora geograficamente estivesse contida na zona sul, sentimentalmente determinei que a Tijuca era “O” lugar. Na época eu nem me dava conta. Entre a 4ª e 6ª serie meu sonho era morar no Tijuca Palace – um típico condômino de prédios altos, com cerca de 12 apartamentos por andar - achava que ter “galera do play” era um máximo.
Mas o atrativo da Tijuca não era nem esse. Eram os meus amigos.
O mais louco é que nunca me dei conta de como eles eram diferentes. Até eu virar uma menina da zona sul, aos olhos deles. As vezes é preciso um distanciamento, um intervalo de tempo, novas e frustrantes (ou não) experiências para a gente dá valor ao que veio de graça para a nossa vida.
Não me arrisco a tentar descrever o que é ser tijucano, não tenho o direito e provavelmente não faria jus ao título. Mas posso falar da sensação que tenho ao estar com as pessoas do lado de lá.
É um transbordamento de humildade que não cabe nas pessoas, um jeito despretensioso, genuíno de ser. Churrasco de salsichão, na laje, com banho de mangueira é diversão para o sábado inteiro. Sem contar que são meus amigos que mais aproveitam o que a cidade oferece de atrativo natural, como as “cachús”, trilhas, e afins. Eles já entenderam o real “segredo”. Não fazem muito barulho por pouca coisa. E o mais ... (não sei que palavra usar), eles tendem a ficar intimidados pelas pessoas da zona sul (que por sua vez tendem a achar que são mais privilegiadas por residirem do lado de cá do túnel). Sendo que o poder aquisitivo dos dois grupos é o mesmo.
Pode parecer uma visão ingênua, utópica, romantizada, mas fazer o quê? Eu vim de lá. Eu vim de lá pequenininha.
Não há nesse texto uma moral, só uma constatação, muito da pessoal. Talvez um desejo oculto, um manifesto contra a influência da geografia. Uma vontade que todo mundo se entendesse, se compreendesse, se visse e se ouvisse.
Não quero aqui idealizar, já vi que isso não rola, já sei onde vai dar. Torço para que o eleito prefeito tire do abandono essa região da cidade.
A idéia era só agradecer. Agradecer ao quiz do stefanios, as tardes no Tijuca Palace, as idas ao shopping tijuca, a praça Vanhargem, a pracinha dos cavalinhos, ao pastel do adão, a lua cheia no Grajaú, a ferinha da praça Saens Peña e sobretudo pela existência dos tijucanos. Não sei se é a água, o ar ou o tal do determinismo geográfico. Só sei que faz bem.

Fica aqui a dica de 2009, seja você também um adepto do Cajuti lifestyle.