quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

es regnet, es regnet


Havia acabado de desenvolver por inteira sua décima nona patinha. Tudo ia bem com a monstrinha, até que ela chegou em um lugar chamado “ponto de não retorno”. Nossa, como aquilo a assustou. Eram tantas coisas novas, tantos riscos. Ela chegou a cair e se quebrou, “Chega” exclamou.
Depois do incidente se trancou em um laboratório. Cercou-se de ratinhos. Para cada um criou um nome e uma história. Lá era tão seguro, tão previsível, tão desinfetado que quase não havia vida.
A monstrinha não percebia o que perdia. Estava viciada em analisar cada passo, cada impulso de seus objetos de estudo. Quando havia necessidade saía do casulo, mas era sempre uma situação breve e frustrante. Desaprendera a se relacionar com seus semelhantes, transformou todos em material de laboratório.
Contudo a natureza da monstrinha não era aquela. Nascera em uma cidade chamada Mirólândia, onde, ao acordar, todos bebiam uma substância chamada oníricogina.
Não sabia se era a falta do remédio, ou o fim de qualquer geração espontânea em seu laboratório, o fato é que adoeceu. As máquinas entraram em curto circuito, os ratos fugiram e cortaram a luz. Pediu socorro. não veio. pediu de novo. não veio. pediu mais uma vez. acabou sua voz e não veio.
Quando a escuridão começou a afetar sua saúde, chegou um vaga-lume – eles eram os salva-vidas em Mirólândia.
“ACORDA” ele gritou. “Há quanto tempo você está aqui, no escuro?” perguntou o inseto.
“Não me lembro mais” respondeu a monstrinha.
“Ouça mocinha
o que deve fazer,
pegue suas galochas e vá para a chuva” sugeriu o salva-vidas.
“Só isso?” indagou a monstrinha.
“Isso, só.” respondeu o vaga-lume.

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