domingo, 29 de março de 2009

Se Grotowski fizesse minha aula de Ética Cristã...


Rio, 27 de março de 2009.

Á professora de Ética Cristã,

Venho por meio desta esclarecer uma (mais uma) confusão feita por você em nossa última aula de Ética Cristã.

Ao tentar nos convencer de que ainda existe um Ethos (discussão que não vou aprofundar nesta carta), você nos indagou a respeito da fonte de Ética, de onde ela viria?

Seu posicionamento não fez sentido. O que não é uma novidade. Já que sua postura diante de questões difíceis é sempre uma tenativa de obter rapidamente, do modo mais fácil, uma resposta vaga, na esperança de que receitas milagrosas possam livrar-nos de todos os nossos problemas.

O ponto na qual quero chegar, o que mais me chamou atenção, foi sua explicação, e aqui cito suas palavras “do paradigma paixão e razão”.
Colocando-os em um campo de batalha, você concluiu que a razão consegue controlar, vencer, a paixão.

Como?

Saiba você que as emoções são independentes da nossa vontade. Não quero estar irritado com determinada situação mas estou. Quero amar uma pessoa mas não posso amá-la, me apaixono por uma pessoa contra a minha vontade, procuro a alegria e não acho, estou triste, não quero estar triste, mas estou. O que quer dizer tudo isso? Que as emoções são independentes da nossa vontade.

Assim como a paixão é independente da nossa razão.

A maneira de zerar a memória/corpo é atráves do extremo cansaço físico, as vezes chegando a dor. E se começamos a fazer coisas difíceis, começamos a encontrar a confiança primitiva em nós mesmos. Levando o corpo ao limite chegamos ao marco zero e começamos a reagir por impulsos. Não por psicologia.

Portanto a cura da paixão nada tem a ver com a razão e sim com a exaustão.

Atenciosamente,
Jerzy Grotowski

3 comentários:

Júlio Trindade disse...

Essa professora de Ética Cristã é aquela que fala ''pra mim ensinar''; ''pra mim ir''?

alex disse...

Misturando um pouco de Lacan com Faucault, eu diria que, sim, de uma certa forma, Sr. Grtowski (que eu tanto aprecio!), o Sr. tem razão. Por outro lado, sim, o Ethos existe mas não precisa ser necessariamente neste contexto dogmático que o Sr. está descrevendo e, além de tudo, o seu "zerar a memória" nada mais é do que um mero "Ethos" desta própria memória e não uma condição "sine qua non" de um "estado". Ou seja, acho que o Sr. tem certa razão no que diz mas as minúncias são muito mais complexas...
abraços;
alhures;
alex.

Carambolices disse...

Em terra de louco Grotowski 'e rei.

Em outras terras ainda existe aula de etica crista.